Centro Latino-Americano de Pesquisa Stanislavski - Stanislávski e Tchékhov: sussurros de uma nova dramaturgia

Stanislávski e Tchékhov: sussurros de uma nova dramaturgia

O Lançamento de “As Três Irmãs, de Tchékhov por Stanislávski”, primeiro livro com selo CLAPS e a palestra “Stanislávski e Tchékhov: sussurros de uma nova dramaturgia”, por Tieza Tissi.

Em Minha vida na arte, Stanislávski observa que “Tchékhov demonstrou melhor do que ninguém que a ação cênica deve ser entendida no sentido interno”. Mas o trabalho dos atores não era pensado em termos de ação interna. Como as questões dessa nova dramaturgia propuseram um novo pensamento sobre o trabalho do ator?

Tieza Tizzi, professora do Teatro Escola Macunaíma desde 2013, partilhou, em sua palestra, frutos de sua dissertação de mestrado onde traduz e analisa material inédito em língua portuguesa, o caderno de direção para o espetáculo As Três Irmãs de Anton Tchékhov, no Teatro de Arte de Moscou (TAM), em 1898.

Uma nova dramaturgia, um novo coletivo teatral, onde todos aspiravam por um teatro novo. Assim Tieza sintetizou o encontro de Tchékhov e Stanislávski, diretor artístico do TAM. O mestre russo se retirou de Moscou antes do início dos ensaios com o TAM e planificou toda a encenação, através de partituras, onde concebeu sua encenação nos mínimos detalhes. Neste momento de sua trajetória, Stanislávski se colocava na perspectiva do ator em cada um dos personagens e, como ator, que também era, construiu sua encenação. No primeiro dia de ensaios entregava o texto de Tchékhov aos atores com suas partituras. Nelas, ao lado do texto, Stanislávski trazia centenas de notas sobre o movimento, intenções e gestos dos atores, bem como, informações sobre sonoridades a serem executadas e detalhes sobre toda a estrutura cênica. Estas partituras eram pontos de partida para a realização dos atores que seguiam as orientações de Stanislávski. Adaptações eram feitas no processo de ensaio.

Tieza partilhou também, aspectos da dramaturgia de Anton Tchékhov, como a desconstrução do drama absoluto, o fluxo interno das ações e as pausas. Os atores tradicionais não conseguiam resultado nesta nova dramaturgia e o trabalho de Stanislávski foi de criar, através da encenação, a manifestação das camadas internas, para que o ator se deixasse surfar na pulsação do tempo, em uma musicalidade tão particular em Tchékhov.

Segundo Tieza, as partituras para o caderno de direção de Stanislávski são uma forma de sistematização de uma arte, a arte da encenação. Segundo ela, poderíamos remontar esta encenação. Isto seria possível em função dos detalhes propostos por Stanislávski.

A palestra foi seguida do lançamento do livro, selo CLAPS pela editora Perspectiva “As Três Irmãs, de Tchékhov por Stanislávski” de Tieza Tissi, com uma noite de autógrafos.